Laura
Desenhou com os dedos uma palavra no lençol.
Tinha traço de dor e escondia um sentimento inacabado.
Havia que o arrancar da cama e enfiá-lo rapidamente na máquina de lavar a 90º com amaciador de sonhos.
Com várias medidas de tira-nódoas e tira-mágoas.
Para não cheirar a passado.
Nem feder a remédios.
Para que desse as voltas suficientes no tambor até perder a noção das direitas e dos avessos, como um moribundo entalado na Roda da Fortuna de cabeça para baixo e a sangrar pelo nariz.
Para o estender no meio das camisolas e meias e batas sem dar nas vistas.
Sem ser mais do que um lençol.
Um lençol branco cagado pelas moscas.
Que a rapariga da limpeza mimava todos os dias, pois sabia que sonos lhe tinham morrido naquela noite.
Tinha a memória na ponta dos dedos.
E costumava passeá-la pelas camas de hospital escrevendo diários que só ela lia.
Chamava-se Laura.
1 Comments:
obrigad pela visita ;)
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