A Lua nos pés
Gostava de ver as coisas de cabeça para baixo.
Como o dependurado das cartas de Tarot. Era assim e fazia parte dele. Era louco, diziam, mas para mim cuspia pela boca as frases mais sábias que ouvi.
Cortava as unhas e achava que dos pés sujos tinha feito surgir guerras e batalhas turcas com crescentes vermelhos, mouros, donzelas de túnicas e cristãos-novos. Pegava em cada unha e escolhia para ela um Quarto-crescente ou um Quarto-minguante. Era só virá-la ao contrário para o céu. "Que nojo!", deixou fugir alguém dum banco do jardim onde eu almoço.
Eu continuava pasmada e a ouvir a mente do senhor das barbas e dos bolsos cheios de lixos escorrer ideias. Era para mim a primeira pessoa com luas nos pés. Eu que sempre pensara que o mais afoito era conseguir ter os pés na Lua...
Amanhã vou sentar-me no mesmo jardim. No mesmo banco. Esperando que ele volte.
Gosto dos loucos.
6 Comments:
Viva os loucos!
:-) Pois é.
Vivam todos e por muitos anos!
Pois é tambem eu.
Começo por gostar de mim que sou louca... de ti que espero que sejas... e quando formos muitos deixaremos de ser loucos e locos serão os que não viveram nunca uma loucura.
Beijos e obrigada pela visita, continuarei a vir aqui...
Isabel
A loucura as vezes é muito lúcida, talvez isso assuste um pouco! Gostei da forma como escreve é poética..
Obrigada pela visita!
A loucura tem destes leves subterfúgios que é o de nos distinguir da multidão.
Seja pela incompreensão de quem olha, seja pela apatia de quem passa, a loucura recomenda-se para que a revolta nunca morra.
Beijos
este teu título está excelente [:
gosto como articulas as palavras, dás-lhes um novo significado.
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