Conversas de faca na mão
O homem do talho espremeu uma borbulha e nasceu um prédio amarelo. Cá fora um cartaz velhote gritava em rosa fluorescente recortado aos picos "Frango com miúdos, promoção só esta semana". Com tanto andaime de ossos que trazia às costas, o desgraçado do avental tornara-se trolha da carne e tinha realmente problemas de pele, sempre que escutava com a cara toda em rugas a cidade farta de peixe:
Mulher 1: E diz que aquela coisa do 755 não foi nada um tremor de terra, foi um "Tissunámi" que veio do mar.
Mulher 2: Ai sim? Eu ouvi qualquer coisa na televisão, ouvi, mas agora o meu homem chega à 7h e quer comer cedo e hoje eu até levo costeletas.
Mulher 1: O teu homem sarou da perna? Ora vês... E as pessoas a dizerem que estava canceroso... Esta gente é o demónio.
Mulher 2: Já trabalha e vamos comprar agora a mobília nova para a sala, que vem agora o Zé da França e traz a mulher e os filhos.
Mulher 3 entra a suar: Parte-me quilo e meio de lombo que eu vou ali e já venho?
Mulher 1: Então faz por te benzer todos os dias, mulher, que o caralho do mau-olhado anda aí. Na França é que eles estão bem, isto aqui é uma miséria, não viste ontem?
Mulher 2: Esteja calada! Está tudo a passar fome e viram-se a roubar e a matar. Gandulos. Precisavam todos era de um landreiro nas costas e pô-los a trabalhar.
11 Comments:
Bem, o homem dos problemas de pele mais parece o Sr. Jaquim do talho dali de baixo... e esses diálogos em talhos e em mercearias são mesmo surreais! O que vale é que a gente lá se vai habituando... Um dia meti-me eu à conversa... Muito bom! Pois é, os gandulos, não há quem os ature... Ai Jesus! E os homens gostam das costeletas tenrinhas, não é menina? O senhor Jaquim é mesmo uma personagem... LOL! ;)
Beijinhos*
Vanessa:
Desta vez apanhei só mulheres, mas as conversas machistas são do piorio: metem bifes, coxas, frangos, a franga.... E ficamos por aqui, não é verdade?
:)
É de facto magnífico, este pintar ideias com palavras, palavrar ideias com imagens, sonorizar imagens com palavras, imaginar palavras com imagens... já estou perdido com as minhas próprias palavras e sei que o mesmo já não se passa com Bruna. Este meu comentárion aplica-se os demais posts. Obrigado Bruna por partilhares a tua riqueza, especialmente para aqueles que vivem na aridez desta vida tão monocromática. luis.
O que a Mulher 2 não sabia - mas imaginava porque isto do sexto sentido feminino não é mais do que a sempre imaginação fértil das mulheres a falar - é que era precisamente a Mulher 1 o demónio que andava a espalhar que o marido da outra estava canceroso. Por que é que todos os males tinham que bater à porta dela e não da outra? Havia que repartir o mal entre as aldeias e por isso, quando saisse dali, a Mulher 1 ia espalhar a sua língua afiada por entre a vizinhança. Qual trabalhar, qual que... O homem devia era andar com outra. Aguenta-se lá uma mulher que quer ir comprar mobília nova só porque o Zé - aquele renegado - vem de França?...
:) (Este comentário não tem nada a ver, eu sei, mas olha, apeteceu-me... Já agora, poe-te atenta às conversas nas filas dos supermecados. Também são muito boas! Beijinho)
A má língua é lixada... Sim, o comentário da Andreia até faz sentido! LOL! ;)
Beijinhos*
Hehe...conversas da esquina!!!
Mas são o nosso quotidiano, não é?
Um beijinho
Sensação de déjà vu...
que conversas mais surreais!!!
E onde entras tu?
Não podes ser a 3ª mulher...
Avusa:
Eu devia ser a 5ª mulher, já que perguntas.
Mas limitei-me a ouvir, não trouxe lombo nenhum...
:)
interessante esta tua faceta de observadora de pessoas...
...anda por aí uma ladroagem que se põe à beira das palvras a transcrever significados em blogs que consideram seus...mesmo sendo boneca!
:D
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