26 maio 2008

Meias horas

Congelava-se o tempo nas 3 da tarde. Vento calmo.
Dom Tirano, cabelo roliço, pescoço apertado em meio palmo de gente, calça de pano e jeito de esquiço, cosia-se à parede do velho mercado, à sombra de meio quilo de grelos.

- Belo dia, Dom Tirano. Como vai isso?
- Vai vindo, como a morte. Vai indo, como o viço.


Aninhando-se em escuro o sol, Dom Tirano vai-se à sorte, sem comprar nada, roendo maçãs, atado ao postigo do muro. Tira uma a uma, cada bota enraizada, e engole-o o Tejo fundo.
Penduradas na árvore, cá fora, definham lentamente as pegadas de sereio.
Dom Tirano era temente do mundo, doente do umbigo, havia as vezes em que mentia e usava relógio à prova de sal e de frio. Mas não fazia mal a ninguém.
Só não era gente.
Nem conhecia o bem.

2 Comments:

At sábado, maio 31, 2008, Blogger scaramouche said...

:)

gostei.

scaramouche.

 
At segunda-feira, junho 02, 2008, Anonymous Anónimo said...

Gosto muito disto maravilhoso.
muito boas, mo’ gostou muito, da mesma maneira que o blog, obrigado muito

 

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