A uma imprecisão de chão a sabe-se lá quantas polegadas do qual prédio
O harmonioso exemplo do sorriso despido que mora na boca.
O desprender assim uma nudez inédita de quem não diz nada e vê tudo.
O acontecer por debaixo das nuvens que velam uma moeda perdida no esgoto.
O não ter certezas da casa.
O acaso.
O passar o não-tempo de quem vai passar o tempo para que o tempo passe por nós.
O banco.
O banco sem livro.
O banco que aparece no livro.
O livro de banco.
O empréstimo dos vocábulos inéditos em papel timbrado que se colam no selo de viagem de quem se foi no cavalo do homem que anuncia os CTT de trombeta.
O tempo que se atreve a ser medido em pombos de ombro.
O chover que cai e que faz charcos e que desaparece nas solas dos que nunca reparam nos sapatos dos outros.
- Levantas os olhos, quando os olhos te pesam?
- Não. Eu sou apenas uma estátua.
11 Comments:
Ontem passei nos correios e enviei uma carta. Daquelas a sério. Para o não-tempo se transformar em tempo a passar por mim. E encontrei uma estátua. Estava cheia de gente à volta. Homens-estátua sem saberem ser gente.
Beijinhos*
lindissimo, texto e diálogo :)
E eu vim aqui deixar-te beijos...
Chris
Sempre foi - e continua a ser - um mistério para mim esse cavalo e homem e trombeta. E enquanto não pensar muito neles, o mistério permanece e eu gosto.
E falando em mistério... as gotas de chuva também são sempre algo de fantástico. Há solas que não merecem e nenhuma das gotas merece desaparecer em solas.
E eu também sou só uma estátua...
bruna, desenhas-me sorrisos e lágrimas ao mesmo tempo. És bela e singela como as tuas palavras.
Li este texto. Reli-o. Mais uma vez. E mais uma vez. Li-o tantas quantas as tuas breves linhas se multiplicam em significado. Belissimo.
muito bonito o texto. tão ricamente cheio de metáforas que nos transportam a outros lugares...
obrigado.
agora fizeste-me lembrar este...
(...)
"Já não estremeço em face do segredo;
Nada me aloira já, nada me aterra:
A vida corre sobre mim em guerra,
E nem sequer um arrepio de medo!
Sou estrela ébria que perdeu os céus,
Sereia louca que deixou o mar;
Sou templo prestes a ruir sem deus,
Estátua falsa ainda erguida ao ar..."
Mário de Sá Carneiro
gosto dos teus poemas de porcelana:)
Filipa:
Esse senhor tinha tanto de desiquilibrado como de talentoso. Uma salva ao Mário!
Beijinho *
Estátuas de nós em tempo parado.
Onde pombos vão medir o tempo ,
Em ombros estáticos de vida.
Reflexos de luz em poças vítreas...
Lindo! Parabéns.
Bjs.
gostei adorei!!!
especialmente porque ás vezes é f´cil sentirmo-nos "apenas uma estátua"...
beijo ;)
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