22 julho 2008

Versos para Dona Jacinta

Bem branco, plissado,
vestido bonito vai bem envergado por Dona Jacinta.
Mulher do General, só veste, só usa vestido com pinta,
em bolinhas de cor.
Salta as divisões da casa com o vento nas saias.
Direita, esquerdina, anda de primor,
mais o fáchabor
que a torna bonita.

Chegada à varanda, sentada no banco,
repousa Jacinta as pernas cansadas
e, de mãos cruzadas, pensa no jantar:
Batatas assadas.
- Redondas? Quadradas?

(No vestido branquinho, sem estar desenhado,
no meio das pintas depressa pintado
recorda Jacinta um verso de amor,
dos tempos de guerra, em que era enfermeira
e havia um soldado e estava solteira.)

Redondas! (as batatas, que os versos fazem mal...)
E amarrota Jacinta nas pintinhas pretas
cantigas de amor, sonhos, estorietas…
Enquanto limpa do avental
palavras soltas de bolas-letras.

Que às oito em ponto vem o General.

04 julho 2008

O subterfúgio

Domingo à tarde colado ao doce de morango no pão.
Funâmbulos que deixam os corações aprumados ao sol, enquanto descansam nas frestas de porta com os pés descalços. Discussões com exímia racionalidade sobre a falsa explicação das coisas, recorrendo à plantação de pés-de-flor de panaceia, e o tacão dos sapatos novos que me apertam os dias dentro das pernas.
É nem sequer o medo do escuro. São os canteiros que me esqueci de regar e a porta aberta.