Conversas de faca na mão
O homem do talho espremeu uma borbulha e nasceu um prédio amarelo. Cá fora um cartaz velhote gritava em rosa fluorescente recortado aos picos "Frango com miúdos, promoção só esta semana". Com tanto andaime de ossos que trazia às costas, o desgraçado do avental tornara-se trolha da carne e tinha realmente problemas de pele, sempre que escutava com a cara toda em rugas a cidade farta de peixe:
Mulher 1: E diz que aquela coisa do 755 não foi nada um tremor de terra, foi um "Tissunámi" que veio do mar.
Mulher 2: Ai sim? Eu ouvi qualquer coisa na televisão, ouvi, mas agora o meu homem chega à 7h e quer comer cedo e hoje eu até levo costeletas.
Mulher 1: O teu homem sarou da perna? Ora vês... E as pessoas a dizerem que estava canceroso... Esta gente é o demónio.
Mulher 2: Já trabalha e vamos comprar agora a mobília nova para a sala, que vem agora o Zé da França e traz a mulher e os filhos.
Mulher 3 entra a suar: Parte-me quilo e meio de lombo que eu vou ali e já venho?
Mulher 1: Então faz por te benzer todos os dias, mulher, que o caralho do mau-olhado anda aí. Na França é que eles estão bem, isto aqui é uma miséria, não viste ontem?
Mulher 2: Esteja calada! Está tudo a passar fome e viram-se a roubar e a matar. Gandulos. Precisavam todos era de um landreiro nas costas e pô-los a trabalhar.