21 setembro 2007

Sobre esperar com patas de espuma

O senhor coelho traz um poema nas orelhas.
Espera no fundo das escadas com patas de espuma e salta levemente, levemente, levemente nos sonhos da rapariga-do-livro-que-nunca-acorda. Por não conseguir sonhar nem dormir, porque vive no mundo do branco, o senhor coelho branco não sabe ler o que escreve, em branco, no branco. Sabe que escreve e sabe o que é o branco. Mas não pode apagar a palavra que acorda a rapariga-do-livro-que-nunca-acorda, porque tanto a palavra, como o papel, como o coelho, como a rapariga, como a borracha, são brancos.
O senhor coelho traz um poema nas orelhas e odeia o branco.
Quando do nevoeiro ao sino da igreja são 3 dias, 3 cachecóis enrolados no pescoço do Inverno, o senhor coelho diz boa noite e lembra aos sonhadores de arco-íris que não existe.
O senhor coelho não existe mesmo.
O senhor coelho só é branco.

10 setembro 2007

A raíz da mandrágora

Meia garrafa de água com sede de olhos castanhos espera o meio-dia para aquecer o coração que trespassa o vidro sujo da janela em bico de pássaro azul com medo de ser verde e de ser pássaro que voa para trás e sobe o eléctrico amarelo que chia em pessoas despenteadas e abana a água que cai e que se verte em mar sem estar quente e sem estar mar e sem estares. Aqui. Onde ficámos sozinhos a olhar para o abismo, para a cara sorridente da loucura.

04 setembro 2007

de amarelo.

A outra disse que tinha medo das chaves.
A outra disse que os sonhos faziam teias por detrás das portas.
A outra disse que acordar era uma coisa leve e tinha almofada.
A outra disse que limpar janelas era cansativo.
A outra disse que uma caixa era tudo menos uma caixa.
A outra disse que se via melhor no escuro dos poços.
A outra disse que fazer vestidos para bonecas era a melhor profissão de todas.
A outra disse que escorregar nas flores não devia ser só coisa de abelhas.

Ela disse adeus.
E foi-se.
Pintar o mundo