Sobre esperar com patas de espuma
O senhor coelho traz um poema nas orelhas.
Espera no fundo das escadas com patas de espuma e salta levemente, levemente, levemente nos sonhos da rapariga-do-livro-que-nunca-acorda. Por não conseguir sonhar nem dormir, porque vive no mundo do branco, o senhor coelho branco não sabe ler o que escreve, em branco, no branco. Sabe que escreve e sabe o que é o branco. Mas não pode apagar a palavra que acorda a rapariga-do-livro-que-nunca-acorda, porque tanto a palavra, como o papel, como o coelho, como a rapariga, como a borracha, são brancos.
O senhor coelho traz um poema nas orelhas e odeia o branco.
Quando do nevoeiro ao sino da igreja são 3 dias, 3 cachecóis enrolados no pescoço do Inverno, o senhor coelho diz boa noite e lembra aos sonhadores de arco-íris que não existe.
O senhor coelho não existe mesmo.
O senhor coelho só é branco.