31 outubro 2007

Fio-de-prumo


Cinco fantasmas presos por molas de roupa gritam por estrelas.
A fulminação impensável do querer ser brilhante contando as horas perdidas no meio das rosas.

Ponto.
Fivela.
Ponteiro.
Vela.
Pele escarlate.
Ela.

Parágrafo das 6h na varanda das heras que não crescem depressa por vontade do sono.
Se dançares comigo, ofereço-te um espinho. Para fugires de mim com passos de flor...

23 outubro 2007

Medo do escuro

Nos fins de tarde daqui o rapaz do triciclo cor-de-laranja pisa o mundo a três rodas e puxa dos bolsos raios de sol. Nunca se queima. É uma buzina infantil com riso de gente nas linhas contínuas da estrada. O Outubro mora-lhe a tiracolo e demora um dente de leite a ser Novembro. Aqui em cima, na janela do 6º frente, o mapa mundo só mede um jardim. E os continentes são mais do que cinco e estão cobertos de carrinhos de supermercado.

- "Ó Zé, sobe que é para jantar!"

Pedi-lhe boleia. Ao rapaz do triciclo cor-de-laranja que nunca se queima. Mas como não cheguei a abrir a boca, ele foi jantar.
Aqui a noite leva as crianças. E as ruas arrefecem em sentido contrário. Com medo do polícia que vive no isqueiro.

17 outubro 2007

Estória não surpresa

Estavam então junto à mesa:
ela, a mãe e o pai, Sua Alteza.

(Falávamos de uma princesa,
de castelos, com certeza.
Em que os criados fazem a limpeza,
todos são dotados de beleza
e só entra no conto quem for da realeza.)

Pois deu-se o caso na redondeza
em que à hora da sobremesa
chegou em jeitos de frieza
certa tarte de framboesa.
Gerou-se então tremenda tristeza:
veio o primo de Veneza,
come a tarte de framboesa
e cai redondo na mesa!

(Vejam lá a indelicadeza...)

Entre desmaio e moleza,
diz ao Rei a criada surpresa:

- Ai o primo era alérgico à framboesa?
Pois temos pena, Alteza,
porque aqui esquisitice é rareza!


Moral da estória indefesa:
Em casa de realeza,
nunca comas framboesa.

09 outubro 2007

O sítio do sono

Escrevia em flores de papel.
Sem lápis, relva, pincel,
sem folha que em linhas prenda
o que ao dizer não se emenda,
o que ao contar não foi dito.
"O que para ti foi escrito,
meu amor de carrocel".

Tremia-lhe ela corada
e em meio sonho deitada:
"O mundo é mesmo cruel".

zzzZZZzzzZZzzzzzzZZZZzzzz

01 outubro 2007

Abecedário

Amo Borboletas Com Dedos Esguios Feitos Guardanapos Humanos Incluindo Jardins, Libélulas. Mais Nenúfares Ou Pessegueiros Quietos Rodopiantes Sempre Tricolores. Uma Violeta Xadrez. Zangões.