Lonesome Town
Devido à ausência de preâmbulos, tudo começa num dia indefinido de mais ou menos pouco sol com tendências acinzentadas: Conto as listas brancas da passadeira, faço trocadilhos parvos com as letras das matrículas e a caras dos respectivos condutores dos veículos, desespero pela chegada do verde, rio-me para o cão da senhora que tresanda a laca emproada (numa malograda tentativa de que alguém me compreenda num plano absurdo e logo de manhã) e continuo a fugir da rua em números ímpares, qual carteiro sempre atrasado de pés e com segredos dos outros às costas. Numa impressão sinestésica crónica causada por noites não dormidas, parece-me sempre que vai chover algum dilúvio. E eu de guarda-chuva esquecido em casa. E prestes a afogar-me nesta cidade.