Recado e linhas

Não se aceitam trocas nem devoluções de artigos sem aviso de recepção.
Atenciosamente,
a bainha do lençol do remendo inacabado.
Caem das mãos com a singeleza do branco. As palavras. E sussurram de mãos dadas. As palavras e o branco. "Não tenhas medo, juntos seremos para sempre crianças.".
Em frente ao mar eu sou apenas um ponto de interrogação escondido e com medo da Lua, porque ela tudo vê, mesmo de luz apagada.
Engoliu o céu, então, tudo em nuvens - algodão suspenso por fios de prata.
Será essa obstinação da agulha do gira-discos, que me faz voodoo no destino à chegada da faixa 12.
Fias nuvens ao sol-pôr, carpideira.
Congelava-se o tempo nas 3 da tarde. Vento calmo.
Pois eu digo que vou arregaçar esses punhos de linho bordado e procurar cada uma das pérolas desse meu colar desfeito.
Devido à ausência de preâmbulos, tudo começa num dia indefinido de mais ou menos pouco sol com tendências acinzentadas: Conto as listas brancas da passadeira, faço trocadilhos parvos com as letras das matrículas e a caras dos respectivos condutores dos veículos, desespero pela chegada do verde, rio-me para o cão da senhora que tresanda a laca emproada (numa malograda tentativa de que alguém me compreenda num plano absurdo e logo de manhã) e continuo a fugir da rua em números ímpares, qual carteiro sempre atrasado de pés e com segredos dos outros às costas. Numa impressão sinestésica crónica causada por noites não dormidas, parece-me sempre que vai chover algum dilúvio. E eu de guarda-chuva esquecido em casa. E prestes a afogar-me nesta cidade.
Ontem esperneei os cabelos à beira do mar e ri-me tresloucadamente de mim mesma, descalça.